sábado, 10 de dezembro de 2011

LURUSKAN, LURUSKAN, LURUSKAN!!!!!!!




O curto espaço labiríntico entre as casas da pequena vila de Buruljul Wetan na Indonésia, era divido por bicicletas, motos e pedestres. Já haviam se passado quatro dias no interior da ilha de Java. Eu seguia rumo a uma das muitas fábricas de telhas da região e/ou plantações de arroz que dominavam a paisagem. Criei uma rotina mecânica,  visitando lugares já conhecidos em busca de novas tomadas para enriquecer a decoupagem.  Ambas as locações me encantava pelos cenários e as pessoas. Mas gravava imagens sem qualquer ideia do que fazer com elas, precisava de algo com que me apaixonar.
Confesso que sempre evito propor projetos quando recebo convites de residências para atuar em uma paisagem desconhecida. Temo encafifar idéias pré concebidas, ao ponto de limitar minha percepção ao que a nova paisagem realmente oferecer.
Sempre me proponho a esse processo rotineiro no inicio de qualquer residência. Na verdade isso soa  mais como desculpa de perambular atrás de inspiração. Essa inspiração geralmente vem na forma de encontros. Que em Burujul Wetan, veio em forma de um coro infantil  e suas frases ritmadas, semelhantes a uma canção. Mesmo ignorando o significado, meus pés e meus ouvidos se incumbiram de me levar até a fabrica de telhas desativada onde minha curiosidade seria aguçada ainda mais  pelo  grupo de meninas  que ali executavam o que me pareceu uma coreografia ao som do coro: - Luruskan, Luruskan, Luruskan!


A fronteira do idioma e a minha completa ignorância a respeito dos costumes locais,  me deixaram a margem, como um expectador solitário, preso ao meu olhar estrangeiro. Confuso, Instigado, impressionado pela beleza dos movimentos, das cores e dos sons das meninas de Burujul.  Qual o razão daquela coreografia?  Tinha uma função religiosa? Era um ensaio para uma marcha militar? Um misto de ambos? Ou apenas uma inocente brincadeira infantil?

Naquela manhã só pude fazer três tomadas das meninas. Um grupo de meninos reivindicavam o mesmo espaço. O silêncio ao fim da "performance" me deixou frustrado. Rapidamente as meninas partiram para suas casas e o que devia ser "um feliz encontro", agora se diluira no labirinto de vielas. 


O ritmo daquelas palavras Luruskan, Luruskan, Luruska... soaria como uma mantra hipnótica em minha cabeça, transformado-as em ideia fixa. Continuei  as atividades mecânicas diárias, mais para distrair e esquecer o fato de não sabermos quem eram e onde encontrar as meninas do dia anterior. No vai e vem por entre os becos indonésio reconheci uma das meninas. Meu tradutor, que aquela altura já havia se convertido em amigo, Rangga Aditiawan, conversou com a tímida garota atrás de pistas que levassem ao resto do grupo. Descobrimos uma professora em comum das garotas e organizamos uma nova gravação com todas as meninas. 

No domingo de manhã acordei com um murmurio de vozes de meninas que caminhavam ao lado da casa  onde estava hospedado. Eram as meninas que chegavam para a gravação. 

Depois de pronto, me perguntava se o vídeo devia ou não esclarecer com legendas, o que se tratava o canto das meninas ou se deixaria o expectador vivenciar algo próximo da minha experiencia, perdido diante uma cultura diferente e tentando, apenas com meu conhecimento  limitado sobre aquele pais e aquelas pessoas, buscar um entendimento do que se passou por debaixo daqueles bambuzais numa manhã ensolarada em Burujul Wetan. 


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